2 de Março de 2011 - 0h02
Jaime Sautchuk *
A história da transmissão de eventos esportivos, o futebol em especial, é repleta de pisadas na bola por parte de velhos e novos cartolas. E sempre levanta a velhíssima questão do monopólio no controle da comunicação de massa, onde o que mais ressoa é o plim-plim global.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) poderá intervir nas negociações ora em curso, entre as oito grandes agremiações dissidentes do Clube dos 13 e a Rede Globo. É certo que a última intervenção do Cade nessa relação levou, por coincidência, 13 anos para surtir efeito. Foi de 1997 a 2010.
No caso, o órgão fiscal da quebra do princípio da livre competição na economia, promoveu um acordo entre o Clube dos 13 e a Rede Globo. Esse acordo, agora já não vale mais nada, já que as negociações com a Globo se dão ao nível de times isolados e não da entidade que os unia.
O primeiro clube a sair foi o Corinthians, por julgar que a remuneração que vinha tendo não era condizente com seu prestígio no Brasil inteiro. E quem gosta do time, dizem as pesquisas, sempre que pode assiste aos seus jogos.
Outros sete clubes (Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, Coritiba, Grêmio e Cruzeiro) também resolveram negociar em separado e a Globo já se apressou. O preço mínimo colocado na mesa, para o Brasileirão deste ano, é de meio bilhão de reais.
Essa rede tinha um acordo que lhe assegurava, de antemão, as transmissões do Campeonato Brasileiro em 2012 e 2014, anos em que o futebol estará em alta, por causa da Copa América, em 12, e da Copa do Mundo, em 14. E em anos assim qualquer jogo tem mais audiência.
Agora, já para este ano, outras redes poderiam competir na licitação que vier a ser aberta. Mas, o Cade já identificou sinais de pré-acertos entre a Globo e clubes e pode intervir. “Se houver alguma queixa neste sentido, vamos abrir processo”, disse o presidente do órgão, Fernando Furlan, em entrevista em São Paulo, segunda-feira.
As emissoras vendem patrocínios das transmissões a grandes anunciantes e ganham muitas vezes mais do que investem em direitos. O que historicamente vem ocorrendo é que a Globo mantém esse principal campeonato como um feudo seu. E os cartolas têm sido coniventes com isso.
Também os diversos órgãos governamentais, além do Cade, que têm a ver com o tema fazem vistas grossas. Até mesmo em questões de outra natureza. Um exemplo: as TVs por assinatura, especialmente as da Globo, por lei, não poderiam ter anúncios, pois sua fonte de renda é o assinante. Mas todas estão repletas de bons anunciantes.
As transmissões de jogos é, como se sabe, o item principal da economia do futebol, que movimenta bilhões de Reais por ano, no Brasil. Os patrocínios, compra e venda de jogadores e bilheterias funcionam como complemento de renda para os clubes.
E nem se fala, no Brasil, na comercialização de brindes com as marcas dos times, que é uma grande fonte de recursos principalmente para o futebol europeu. A cartolagem nunca conseguiu explicar direito seu desdém para esta fonte de receita. Sempre alega que a concorrência da pirataria não permite esse tipo de negócio. E ponto final.
A formação e a transação de jogadores rende boa grana, mas provoca distorções, como a de evasão de craques ou de jogadores medianos que são tratados como craques nos mais remotos cafundós desse mundão. Onde quer que seja, do escaldante norte da África ao gelo polar, onde houver uma bola rolando tem brasileiro por perto.
Isto, aliás, nos leva ao caso das escolinhas de futebol que proliferam no País inteiro com o intuito de vender a meninada ao primeiro negociante que aparecer. Muitos desse meninos (e agora também meninas) não dão certo ou têm problemas de saúde e ficam soltos no mundo.
A limitação de idade, prevista na legislação esportiva, deixa brechas. Exemplo: aos país, ansiosos por dinheiro rápido, é permitido assinar autorizações em nome dos filhos menores, incapazes por lei.
O fato de algumas figuras notórias da cartolagem, com carimbo de bandido na testa, terem se afastado das direções de clubes e entidades, não quer dizer que as práticas ilegais tenham acabado. É certo que diminuíram com novas leis e renovação, mas estão longe de seu fim.
Tampouco é motivo de alguma alegria o fim do Clube dos 13, cujo prenúncio é resultado da atual divisão na entidade. Essa agremiação surgiu, aliás, da luta contra a direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no início dos anos 80.
Com os anos, porém, o Clube dos 13 foi definhando, sem realizar algumas prometidas e esperadas mudanças. Uma delas seria a de dividir melhor as rendas de direitos e bilheterias. Ao invés de democratizar a distribuição, o dinheiro foi desaparecendo para todos os clubes.
A reação iniciada pelo Corinthians tem o sentido da quebra desse status quo, o que, como princípio, é um bom sinal. Mas resta ver se os clubes menores serão contemplados com algum ganho maior e se haverá chance de quebra do monopólio nas transmissões de jogos.
Senão, que venha o Cade. Desta vez, mais depressa.
No caso, o órgão fiscal da quebra do princípio da livre competição na economia, promoveu um acordo entre o Clube dos 13 e a Rede Globo. Esse acordo, agora já não vale mais nada, já que as negociações com a Globo se dão ao nível de times isolados e não da entidade que os unia.
O primeiro clube a sair foi o Corinthians, por julgar que a remuneração que vinha tendo não era condizente com seu prestígio no Brasil inteiro. E quem gosta do time, dizem as pesquisas, sempre que pode assiste aos seus jogos.
Outros sete clubes (Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, Coritiba, Grêmio e Cruzeiro) também resolveram negociar em separado e a Globo já se apressou. O preço mínimo colocado na mesa, para o Brasileirão deste ano, é de meio bilhão de reais.
Essa rede tinha um acordo que lhe assegurava, de antemão, as transmissões do Campeonato Brasileiro em 2012 e 2014, anos em que o futebol estará em alta, por causa da Copa América, em 12, e da Copa do Mundo, em 14. E em anos assim qualquer jogo tem mais audiência.
Agora, já para este ano, outras redes poderiam competir na licitação que vier a ser aberta. Mas, o Cade já identificou sinais de pré-acertos entre a Globo e clubes e pode intervir. “Se houver alguma queixa neste sentido, vamos abrir processo”, disse o presidente do órgão, Fernando Furlan, em entrevista em São Paulo, segunda-feira.
As emissoras vendem patrocínios das transmissões a grandes anunciantes e ganham muitas vezes mais do que investem em direitos. O que historicamente vem ocorrendo é que a Globo mantém esse principal campeonato como um feudo seu. E os cartolas têm sido coniventes com isso.
Também os diversos órgãos governamentais, além do Cade, que têm a ver com o tema fazem vistas grossas. Até mesmo em questões de outra natureza. Um exemplo: as TVs por assinatura, especialmente as da Globo, por lei, não poderiam ter anúncios, pois sua fonte de renda é o assinante. Mas todas estão repletas de bons anunciantes.
As transmissões de jogos é, como se sabe, o item principal da economia do futebol, que movimenta bilhões de Reais por ano, no Brasil. Os patrocínios, compra e venda de jogadores e bilheterias funcionam como complemento de renda para os clubes.
E nem se fala, no Brasil, na comercialização de brindes com as marcas dos times, que é uma grande fonte de recursos principalmente para o futebol europeu. A cartolagem nunca conseguiu explicar direito seu desdém para esta fonte de receita. Sempre alega que a concorrência da pirataria não permite esse tipo de negócio. E ponto final.
A formação e a transação de jogadores rende boa grana, mas provoca distorções, como a de evasão de craques ou de jogadores medianos que são tratados como craques nos mais remotos cafundós desse mundão. Onde quer que seja, do escaldante norte da África ao gelo polar, onde houver uma bola rolando tem brasileiro por perto.
Isto, aliás, nos leva ao caso das escolinhas de futebol que proliferam no País inteiro com o intuito de vender a meninada ao primeiro negociante que aparecer. Muitos desse meninos (e agora também meninas) não dão certo ou têm problemas de saúde e ficam soltos no mundo.
A limitação de idade, prevista na legislação esportiva, deixa brechas. Exemplo: aos país, ansiosos por dinheiro rápido, é permitido assinar autorizações em nome dos filhos menores, incapazes por lei.
O fato de algumas figuras notórias da cartolagem, com carimbo de bandido na testa, terem se afastado das direções de clubes e entidades, não quer dizer que as práticas ilegais tenham acabado. É certo que diminuíram com novas leis e renovação, mas estão longe de seu fim.
Tampouco é motivo de alguma alegria o fim do Clube dos 13, cujo prenúncio é resultado da atual divisão na entidade. Essa agremiação surgiu, aliás, da luta contra a direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no início dos anos 80.
Com os anos, porém, o Clube dos 13 foi definhando, sem realizar algumas prometidas e esperadas mudanças. Uma delas seria a de dividir melhor as rendas de direitos e bilheterias. Ao invés de democratizar a distribuição, o dinheiro foi desaparecendo para todos os clubes.
A reação iniciada pelo Corinthians tem o sentido da quebra desse status quo, o que, como princípio, é um bom sinal. Mas resta ver se os clubes menores serão contemplados com algum ganho maior e se haverá chance de quebra do monopólio nas transmissões de jogos.
Senão, que venha o Cade. Desta vez, mais depressa.
Jaime Sautchuk *
* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
FONTE SITE VERMELHO
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