segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cidadão Orson Welles: quem é o autor do melhor filme da história?

22 de Maio de 2011 - 16h59


Rosebud. Essa palavra, todo cinéfilo tem de cor na cabeça, desde que Cidadão Kane tornou-se o ícone mundial do cinema de arte. Não foi uma fama imediata. O mito Kane foi se construindo ao longo do tempo, forjando sua própria tradição e posteridade.


Por Luiz Zanin Oricchio, no O Estado de S.Paulo

Cidadão Kane teve sua première dia 1º de maio de 1941, em Nova York. Chegou ao Brasil em 16 de junho do mesmo ano, antes da Europa. Compreende-se. A maior parte dos países europeus estava então envolvida na 2.ª Guerra e fechada ao cinema americano. Uma exceção era Portugal (neutro), que colocou o filme de Welles em cartaz em outubro de 41, com o título de O Mundo a Seus Pés.

Em sua terra, Kane enfrentava percalços. O magnata das comunicações, William Randolph Hearst, reconheceu-se no personagem e boicotou a película. Via em Kane o homem poderoso e, no fundo, vazio, corrupto, destruidor de pessoas que era ele próprio. Havia outra alusão, de ordem sexual. Rosebud (botão de rosa) seria o apelido que Hearst dava à parte íntima da anatomia da amante, Marion Davies.

Temeroso do poder de Hearst, Louis B. Mayer, boss da MGM, ofereceu à RKO US$ 800 mil para queimar o negativo. Por sorte, a oferta não foi aceita. No Oscar, Kane não teve melhor sorte. Indicado a nove categorias, ganhou apenas em uma — roteiro, de Herman Mankiewicz, dividindo o crédito com o próprio Welles.

Kane se impôs aos poucos. A cada geração, enaltecido por camadas geológicas de exegeses e críticas favoráveis, foi ganhando a posição de "filme dos filmes". Uma espécie de princípio do cinema moderno, aquele que saía do cisma provocado pela entrada em cena do sonoro nos anos 30, e que subvertera a estética do silencioso.

Os anos 20 haviam produzido todo o expressionismo alemão, boa parte da obra de Chaplin, os divisores de água de Eisenstein (Encouraçado Potemkin e Outubro). Com o sonoro, temia-se a regressão a uma estética anterior, colocando toda a força nos diálogos e esvaziando a imagem. Não precisava ser assim, e não foi. Kane não foi o único a demonstrá-lo, mas talvez o tenha feito com ênfase inigualável.

Mesmo após o incrível sucesso crítico alcançado, Kane continuou a levantar polêmicas. Uma delas partiu da norte-americana Pauline Kael que, em seu ensaio Criando Kane, atribui a Mankiewicz a maior parte do mérito pelo sucesso de Kane. De acordo com Kael, é o texto brilhante que faz o filme.

Ok, mas mesmo com o melhor dos textos, o que seria da obra sem a mescla de gêneros proposta por Welles, sem a profundidade de campo usada por Gregg Toland, a montagem descontínua de Robert Wise, a música de Bernard Herrmann, o uso criativo da narração radiofônica? Enfim, sem tudo aquilo que faz de Kane um filme (e não um texto) extraordinário, por obra e graça de Welles, o grande regente por trás de todos esses talentos?
Sua influência posterior talvez seja inigualável, pois todo o melhor cinema moderno é seu devedor. Mesmo seu achado — a palavra "rosebud" —, que guia a trama nesse intrincado enigma chamado Charles Foster Kane, mantém sua força. Rever Cidadão Kane, 70 anos depois, ainda é uma experiência sem par. Terminamos o filme sem fôlego, contemplando aquela imagem singela e ao mesmo tempo misteriosa. Todos temos o nosso rosebud pessoal. Foi Kane que nos ensinou essa verdade simples.


FONTE SITE VERMELHO!!!!




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